quinta-feira, 28 de julho de 2011

A Aventura Está Lá Fora

Começou como uma brincadeira. É, aos 51 anos após uma cirurgia cardíaca de certo risco, resolvi voltar a estudar. Aí me vejo de repente, de volta a um mundo que havia abandonado há +de 30 anos. Gente jovem por todos os lados, rapazes e moças com uma disposição de vida que graças a Deus, nunca me foi estranha, e uma vontade de saber mais, e aprender de tudo. Vai daí que, seja pela proximidade do lançamento do filme, ou pelo meu bem cultivado mau humor (que rego todos os dias deixando a adubação por conta do noticiário), uma das minhas colegas de turma viu semelhanças entre o Mr. Fredericksen (do filme UP), e eu.
No início achei que a referência era apenas devida aos muitos anos vividos (na faculdade eu era mais velho até que a maioria dos meus professores), mas depois, assistindo ao filme, constatei emocionado várias e variadas semelhanças com o personagem.
Assim como ele, também fui abençoado pelo amor de uma verdadeira companheira, participante de cada uma das minhas aventuras. E que graças a Deus ainda faz parte dessa minha venturosa e aventurosa existência.
Como Fredericksen, me mostro disposto a qualquer risco ao lutar por aquilo que acho importante, da preservação de meu espaço, ao respeito às minhas amadas lembranças.
Vejo em mim também essa disposição traquina e moleque, de mostrar aos poderosos que eles podem ter muito; máquinas, asseclas, dinheiro aos montes. Mas nunca terão a última palavra sobre a minha vida. Sou (somos) herdeiros da divina dádiva do livre arbítrio.
Da mesma maneira que aquele senhor, não me recuso a ir de encontro da aventura, por mais perigosa ou louca que pareça, contrariando até minha primeira vontade de me acomodar e deixar a vida me levar. E, depois de tomada a decisão, posso (podemos), enfrentar todas as lutas e todos os medos. Desafiando vilões e (o que é mais assustador), revendo antigos conceitos e desmascarando heróis de papel.
Ah, velho Fredericksen, que me ensina todos os dias que somos mais que nossa imagem patética, com bengala, sapatos de laços enormes e antiquadas gravatas borboletas. Somos capazes de despertar e dar amor, de criar e dividir sonhos, de aprender com velhos homens e meninos, de defender as mais esquisitas criaturas, em nome de um bem maior que nosso próprio descanso.
Obrigado, Yara, pelo apelido e por ter me ajudado a rever que a aventura está lá fora, e que devemos estar sempre prontos a ir atrás de nossos sonhos. Mesmo que em nossa bagagem carreguemos bengalas, artrites, próteses, dentaduras e as alegrias e tristezas de uma vida bem vivida. Mesmo que nosso único transporte seja uma ridícula, colorida, insegura, maravilhosa nuvem de balões, poderemos cruzar continentes, atravessar mares, ultrapassar montanhas.  Venham, a Aventura está lá fora.