quinta-feira, 13 de outubro de 2011

COMO OS URSOS




Esse gozar a vida, não pode ser meio e fim. Não. Fomos criados para algo além, que as sextas não contam, e os sábados escondem em seus mantos.
Longo é o anoitecer, e o inferno em meus olhos quando te buscam, queima mais frio e contínuo que a bola do crepúsculo. Terão também lobos direito ao entardecer, ou será privilégio de cães assistir a queda do sol.
Ah, irmão, por onde tens andado? Teus passos desviaram-se tanto quanto os meus nestes descaminhos vertentes e nus? Também tu foste tentado diante do cofre, mas não tanto que te fizesse esticar  a mão? Também foste ridículo quando “só príncipes havia a volta”?
Ah, irmão, irmão, que falta nos faz a fogueira, e as cantigas de bruxas e espadas. Que saudades da honra, justiça e glória. Que desesperada nostalgia pelo cavalo, lança e escudo, e nada a temer que todos os dias são de prova e justa, suor e lida.
Há quanto não enfrentas dragões e magos?
Vem, desfralda também o teu pendão, e armemos pavilhões em desafio ao barão.
Vem, afia a tua espada, desembainha punhais, aquece a têmpera do aço em teu sangue nobre.
Vem, e não esperemos prêmios, só o verdadeiro valor do dever cumprido.
Vem, e não te importes com a aparência de moinhos, são ogros na verdade, que temos de enfrentar.
Vem, e que a alma dos loucos e dos ursos nos acompanhe.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Pomo de Ouro


Morda a maçã! E não olhe o miolo. Só assim serás capaz de engolir um pedaço. E, se teimosamente teu olho escorrer pela borda da pálpebra, procurando dentre as várias podridões uma parte aceitável; arranca-o.
A maçã deve ser devorada gulosamente, sem preconceitos gástricos. Mesmo porque tirando a casca, o resto está irremediavelmente comprometido.
Morda a maçã! Já te deram coisa pior para engolir, e nunca reclamaste.
Então... Morda logo esse pomo perfumado, e não busque esotéricas explicações para o degustativo ato. Uma maçã foi feita para ser mordida, não a fizeram para que fosse pensada, analisada, debatida em congresso de doutos.
Morda-a sem susto ou rezas.

domingo, 2 de outubro de 2011

PELO USO DA PALAVRA



Primeiro quero deixar claro a todos (e quem já me conhece sabe que isso é verdade), o fato de que não sou nenhum puritano. Pelo contrário, por vezes até me recrimino, pois para um cristão convicto, tenho a boca bastante suja...
Mas o que vou  falar, não se refere a puritanismos ou a convicções religiosos, mas sim ao uso da palavra. Explico; assistindo a shows no recente concerto de rock, vejo vários cantores se dirigindo à plateia gritando o seguinte “elogio”: “Vocês são fo...!!!” e, também no dia a dia, encontro essa mesma expressão( e outras como “do ca...”) largamente utilizada no “Facebook”  e em outras redes sociais, como sinônimo para muito bom, excelente, etc.
Aí, fico pensando; nosso idioma, a língua portuguesa, é um dos mais ricos e belos em sonoridade do mundo. Temos sinônimos os mais expressivos e veementes para cada situação surgida em nossa vida, não precisamos do uso desse tipo de palavra para descrever algo que nos impressione. Mesmo porque, a repetição sem sentido de qualquer termo, acaba por fazer com que este perca a força, e aí, quando um dia encontrarmo-nos em uma situação que seja realmente uma FO..., teremos que brindá-la com nosso silêncio.
E já estamos indo por esse caminho. Pergunto a alguém como anda o mercado de trabalho (ou as provas na faculdade), e vem a resposta: “Tá uma FO...”, aí eu digo, “Parabéns, porque além de tudo está dando prazer...” “Não o senhor não entendeu, ‘tá muito ruim...” ? Outra situação; encontro um de meus jovens amigos (porque não tenho só amigos próximos de vencer a validade como eu, viu), e pergunto como foi o show de uma cantora. Resposta (geralmente com olhos esgazeados e um “o” prolongado): “Foi FOOOOO...”, e eu; “Que pena, um show tão caro...” Aí meu jovem amigo me corrige; “Eu ‘tô* falando que foi muito bom!”(ou tow*). E porque não falou logo?
Gente, se foi bom, você pode dizer : (lista de sugestões) BOM, ÓTIMO, SENSACIONAL, FABULOSO, FANTÁSTICO, FENOMENAL, DIVINO, MARAVILHOSO (e por aí vai). Podem até optar por um neologismo e criar termos como: FABULÁSTICO, DIVINOSO, OTIMOSO, BÓTIMO, SENSACIONOSO, SENSACIONÁSTICO (e tome polca).
Ah, e para as coisas ruins: RUIM, HORRÍVEL, TERRÍVEL, TENEBROSO, HORROROSO, CHATO, INFERNAL, NOJENTO, GOSMENTO, DOLOROSO, e toca daí.
Por favor, vamos dar trabalho à mente e exercitar nosso idioma, para o bem e para o mal. Deixemos as FO... e CA... em seus devidos lugares, até mesmo para que eles não percam a força, porque tem horas que (reconheço) só um bom palavrão expressa o que estamos pensando. Como na anedota:
Aquele louro imenso de quase 2 metros entra no confessionário e já tasca: “Padre, é fo...” e o padre, já cortando: “Que é isso, meu filho, não fale assim na igreja...”, e o grandalhão: “Deixa explicar, sou filho, neto e bisneto de alemão dos dois lados da família. Minha mulher é filha, neta, bisneta e trineta de alemão. Tudo grande e louro de olhos verdes...” “E daí?”, “Hoje, fui na maternidade visitar minha mulher que ganhou neném...Olho o bebê, e vejo um japonês?!?!” E o padre, compungido; “ É, meu filho, aí é mesmo fo....”

Usemos mais a palavra. A palavra certa na hora certa, com toda a beleza, riqueza e criatividade com que fomos presenteados.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Diante do Espelho

  

E ninguém ouvirá seus passos sobre o calçamento na noite. O que fizeste há minutos poderá ser totalmente esquecido, já que nem mesmo tu tomaste consciência sobre o que tuas agressivas e insaciáveis mãos buscaram em luxúria, ódio ou desejo. Não é preciso correr...

Meu fantástico amigo hoje já se pode dispensar capa e máscara. O descaramento generalizado torna o embuçar-se coisa antiga, cheirando a mofo e naftalina. E sobre o caráter...

Afinal, foram criadas as sextas para golpes, assassínios e orgias (sai imediatamente dessa cama quente!!). Se tua consciência ainda te incomoda, deita-a fora e padroniza-te pelas mais modernas filosofias. Dos objetivos absolvendo os modos, de tudo vale na conquista de “status-quo”, de prazeres ou de uma rápida redenção.

A mim podes confessar sem susto – já meus olhos não se maravilham ou assustam após séculos vendo o mundo – conta se te alivia que o desejo é a melhor forma de amar, e que, mais que a fúria, a simples curiosidade de sentir e ver um corpo expirar foi o que te levou ao homicídio.

Eu compreendo. E não poderia atirar a primeira pedra sem correr o risco de receber algum estilhaço. A verdade não se deve mais envolver em sedas e veludos (é preciso que aflorem os espinhos). Por maior que seja tua repulsa, olha-te, este é o teu raso, a sobra da massa em que te transformaram e que hoje (sem um tremer de cílios!) contemplas.

Faça um bom proveito de ti...

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Lições de Uma Triste Figura


“Sonhar..
Mas um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer o inimigo invencível
Negar quando a regra é vender” (
Sonho Impossível -J. Darion - M. Leigh - Versão Chico Buarque e Ruy Guerra/1972 Para o musical para O Homem de La Mancha de Ruy Guerra)
Preciso confessar uma coisa; sempre fui fã de filmes e romances de cavalaria. Rei Artur, Lancelote, Gawain, Ivanhoé, Ricardo Coração de Leão, enchiam minha cabeça de menino não apenas de atos de bravura física, mas de ética, coragem moral e companheirismo.  
Já mais adolescente, quando geralmente  abandonamos, ou até mesmo passamos a nos envergonhar das coisas de menino, fui apresentado a Dom Quixote de La Mancha.
O mais interessante é que quem me recomendou o livro tinha por intenção alertar sobre os perigos da leitura em excesso. O bom fidalgo, de tanto ler, enlouquece, e passa a ver tudo sob o manto da fantasia, ou do personagem por ele assumido. Um Cavaleiro da Triste Figura, magro, velho, alquebrado, cavalgando um pangaré com uma bacia de metal na cabeça, um  escudo e espada de terceira, e uma vontade imensa de acabar com os perigos do mundo.
Graças a Deus, não peguei medo da leitura. Graças a Deus, um pouco da loucura e principalmente das lições dessa Triste Figura, me marcaram por toda a vida.
Aprendi com Quixote, que para ser cavaleiro, basta a coragem, a vontade e a ousadia. As armas, bem, uma bacia (ou panela como mostrou Ziraldo), uma espada enferrujada, uma lança de madeira, um escudo feito por uma bandeja, um pangaré às portas da morte, e uma estrada pra seguir em frente.
Ensinou-me também Quixote, que a mulher que amamos sempre será uma nobre ou princesa, e que seus amigos e companheiros são heroicos e valentes.
Aprendi que a casa que me acolhe, por mais humilde que seja, é um castelo.
Que existe uma magia ruim, tentando me fazer ver as coisas diferentes do que são.
Mas a principal lição é aquela de que o verdadeiro cavaleiro põe à disposição da justiça e dos injustiçados sua força e suas armas. E quanto maior e mais forte for o adversário, proporcionalmente o será a glória de enfrentá-lo.
Ah, e aprendi a não dar ouvidos quando me dizem que são moinhos, não são não. São ogros gigantes que querem nos engolir. São imensos e malévolos seres, que se alimentam de almas, que devoram espíritos e vontades.
Cavaleiro da Triste Figura, que ao voltar pra casa conclui que não existem mais heróis, apesar das injustiças muitas pela estrada em diante.
Cavaleiro da Triste, Ridícula e Amada Figura, vem comigo a recolher as luvas atiradas em desafio e a provar a todos que devemos “lutar, quando é fácil ceder”. Pegue sua espada, escudo e bacia, e vamos em frente, que os moinhos não nos enganam, são monstros e gigantes, que precisam urgentemente ser derrotados, para que enfim tenhamos um pouco de paz.

domingo, 28 de agosto de 2011

AINDA SOBRE A LOUCURA



Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas ideias e os vossos sentimentos!... que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois!” (Charles Chaplin in “O grande Ditador”.).
Saindo recentemente de uma empresa (coisa que me deixou mais feliz que triste), qual não foi minha surpresa ao descobrir que vários de meus direitos de trabalhador não haviam sido respeitados. E, ao reclamar, ouço da ex-colega “a gente sabe que está errado, avisa que não é pra fazer assim, mas mandam fazer... estou só fazendo o que me mandam...”.
Viajo no tempo. Ano de 1998, auditoria na emissora de TV onde trabalhava, auditores enviados pela matriz me chamam: “Olha, descobrimos coisas seríssimas sobre o Edson, (diretor local) mas não temos como provar. Então, a gente quer te fazer uma proposta: você denuncia o Edson pra gente, nós o demitimos, e você é promovido pro lugar dele. Você sabe que quando nós o contratamos, o Edson até votou contra...” Bem, resultado; saímos eu e Edson. Como estava em uma cidade estranha e distante, onde tinha poucos amigos, penei meses sem conseguir trabalhar, indo inclusive assumir uma função em outra cidade, 500 km distante passando a ver minha família a cada 15 dias.
Antes que você faça a pergunta, respondo; o Edson era apenas um colega de trabalho, não o melhor amigo. Tínhamos até pouca convivência, fora da empresa. Também não acho que sou uma espécie de santo, ou herói. Mas tenho certeza de que sou um homem de bem.
Volto ainda mais longe no tempo. Novembro de 1945, julgamento de Nuremberg, a maioria dos acusados alega que estava “apenas cumprindo ordens”, e mesmo com essa alegação tão bem aceita em um tribunal militar, muitos foram condenados à morte por enforcamento. Porque não se consegue conceber que alguém cumpra ordens que burle a lei, fazendo sofrer ou prejudicando seus semelhantes. E notem todos que o mundo estava saindo de uma guerra, e a maioria dos condenados era soldado, cumprindo ordens em período de guerra.
De volta aos dias de hoje, e ao meu insignificante caso pessoal. CUMPRINDO ORDENS!!! De que massa você é feita? Da mesma que coloca ditadores no poder e marcha a passos de ganso para a prática de violências várias contra seus semelhantes. Daquela que declara que as injustiças “são da vontade de Deus” e não podemos fazer nada. Cumprir ordens ilegais os torna a todos cumplices, seja ao prejudicar em alguns reais um colega de trabalho, seja ao cercar grupos de homens para a câmara de gás. Pensar que está apenas cumprindo ordens pode acalmar essa sua já pouco lúcida consciência, mas não o torna menos mau caráter do que quem mandou.
E não venham com a esfarrapada desculpa de que se eu não fizer me demitem e outro faz. Porque não cola. Eu não fiz, e não sou mais ou menos homem que ninguém. Eu disse não. Podem enganar, agir de forma ilegal, transformar gente em gado, matar, torturar, enfim, praticar todas essas coisas que vemos dia a dia, mas não será com a minha ajuda e contribuição. Não somos máquinas. Ninguém programa ou aperta nossos botões, nos fazendo agir sem tugir nem mugir. Não somos máquinas.
Sabe mesmo sem me considerar herói ou santo, tenho certo orgulho do que fiz naquela época. Sofri? Muito. Dias e dias distante de quem amava, 7 a 8 horas de viagem em uma estrada difícil, onde o único consolo era saber que logo estaria com minha mulher e filhos. Mas, o que mais valeu, era poder pegar meu filho no colo, e olhar tranquilo em seus olhos, beijar minha esposa sem sentir vergonha. Comer o pão de cada dia com a alma tranquila; aquele pão foi fruto do meu trabalho, e não de “apenas cumprir ordens”.
Para vocês que apenas cumprem ordens; é possível ser melhor que isso.  
Para vocês que apenas cumprem ordens, espero que Deus os perdoe por isso. Porque eu, que já descumpri e desagradei esses “poderosos”, nunca o farei.  
Que a vida lhes seja leve.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O Louco Dentro de Mim




“Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.” 1 Coríntios 1 : 18

Após reagir verbalmente a meses de humilhações várias, um amigo me disse que sou louco.
Ah, meu jovem, pouco experiente e pretensioso amigo, quem dera Deus o houvesse abençoado com uma gota dessa minha loucura.
Aquela loucura que não admite a falta de ética, e que levanta a voz a cada vez que vê uma injustiça ser praticada.
Uma loucura que o tornasse intolerante para com os intolerantes, e retirasse esse medo insano que você tem da vida e do mundo, tornando-o um menino eternamente atrás da aprovação dos “poderosos adultos”.
A loucura que faz com que respeite a mulher amada, e veja que sim, existem muitas, mas nenhuma como aquela que seu amor elegeu. Que me faz ter todo o tempo do mundo para meus filhos, ou estar sempre disponível para um amigo.
Uma loucura que não admite que o homem seja o lobo do homem, nem permite que veja o mundo de maneira cínica e descrente.
Ah, essa minha santa loucura, que me faz dizer não, quando o sim seria tão mais fácil, e mesmo mais doce e materialmente compensador. A loucura que vem de dentro pra fora, fazendo-me recolher as luvas lançadas em desafio.
Vejo em retrocesso que a loucura me abençoa, e me faz mais amoroso com amigos, paciente com os necessitados, sincero em minhas orações e desejos. E não me deixa temer cargos e patentes, e respeitar o humano em cada um, e exortar, não importa quem seja, quando age errado.
Uma loucura que faz com que acredite que sim, pode ser melhor. A vida pode ser melhor e mais justa, o homem pode ser melhor e menos corrupto, e nosso dia a dia mais puro, feliz e bom.
Só espero que um dia a minha loucura o contamine, como vem contaminando outros saudáveis loucos pelo meu caminho.

sábado, 13 de agosto de 2011

MAIS PARA SENTIR FALTA.



Essa semana comecei a achar bom ter quebrado a barreira do pleistoceno e entrado em uma rede social.
Clica daqui, tecla de lá, aperta acolá, e encontrei os amigos da minha juventude. Aqueles de “antes dos vinte”, quando achamos que vamos mudar o mundo, e que nossa amizade será para sempre. Pasmem... A amizade é para sempre! Independente de cabelos brancos, dores e sofrimentos do passado, começamos a conversar como se não houvesse um intervalo de mais de 20 anos desde a última vez em que nos vimos.
Foi uma noite de poesia. Poesia sem dor, daquela pura com que é feita um acalanto. Uma poesia simples, como a lua nos fornece quando reflete no mar, ou o sol nos brinda quando nasce nas montanhas. Simples e grandiosa. Grandiosa porque simples.
Éramos meninos cheios de esperança, somos adultos, mas continuamos, como os meninos que fomos, a acreditar que vale sorrir em meio à luta. E que nenhuma dor é eterna, se não passa, nos acostumamos com ela. Aprendemos a valorizar cada sorriso, cada momento de amor, cada amigo sincero.
Ah, meus doces amigos. Que se esforçaram para nos encontrarmos aquela noite, já que no dia seguinte eu voltaria (o único a sair do Rio de Janeiro) para casa. Esticaram horários, atenderam compromissos outros com maior presteza, para o ligeiro reencontro.
Amigos de minha primeira juventude, que ressurgem para ensinar mais esta lição: que agora tenho mais para sentir falta. Tenho mais lembranças, tenho mais amor, tenho mais carinho deixado pra trás.
Lembrei graças a vocês, de outros amigos que nessa vida cigana que levo, vou deixando pelo caminho, e dos quais vez por outra bate aquela saudade machucada, de doer fininho.
E aprendi, graças a vocês, o quanto é bom sentir saudades. É a clara demonstração de que nossa vida não tem sido em vão.
Graças a Deus pelos meus amigos.
E também porque a cada dia temos mais pra sentir falta.
Que Deus abençoe a cada um de nós, e a nós todos, por essa vida bem vivida que levamos.

Bia, um agradecimento especial pelo seu trabalho de detetive, que acabou por tornar possível não só este, mas os próximos e muitos reencontros.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

A Aventura Está Lá Fora

Começou como uma brincadeira. É, aos 51 anos após uma cirurgia cardíaca de certo risco, resolvi voltar a estudar. Aí me vejo de repente, de volta a um mundo que havia abandonado há +de 30 anos. Gente jovem por todos os lados, rapazes e moças com uma disposição de vida que graças a Deus, nunca me foi estranha, e uma vontade de saber mais, e aprender de tudo. Vai daí que, seja pela proximidade do lançamento do filme, ou pelo meu bem cultivado mau humor (que rego todos os dias deixando a adubação por conta do noticiário), uma das minhas colegas de turma viu semelhanças entre o Mr. Fredericksen (do filme UP), e eu.
No início achei que a referência era apenas devida aos muitos anos vividos (na faculdade eu era mais velho até que a maioria dos meus professores), mas depois, assistindo ao filme, constatei emocionado várias e variadas semelhanças com o personagem.
Assim como ele, também fui abençoado pelo amor de uma verdadeira companheira, participante de cada uma das minhas aventuras. E que graças a Deus ainda faz parte dessa minha venturosa e aventurosa existência.
Como Fredericksen, me mostro disposto a qualquer risco ao lutar por aquilo que acho importante, da preservação de meu espaço, ao respeito às minhas amadas lembranças.
Vejo em mim também essa disposição traquina e moleque, de mostrar aos poderosos que eles podem ter muito; máquinas, asseclas, dinheiro aos montes. Mas nunca terão a última palavra sobre a minha vida. Sou (somos) herdeiros da divina dádiva do livre arbítrio.
Da mesma maneira que aquele senhor, não me recuso a ir de encontro da aventura, por mais perigosa ou louca que pareça, contrariando até minha primeira vontade de me acomodar e deixar a vida me levar. E, depois de tomada a decisão, posso (podemos), enfrentar todas as lutas e todos os medos. Desafiando vilões e (o que é mais assustador), revendo antigos conceitos e desmascarando heróis de papel.
Ah, velho Fredericksen, que me ensina todos os dias que somos mais que nossa imagem patética, com bengala, sapatos de laços enormes e antiquadas gravatas borboletas. Somos capazes de despertar e dar amor, de criar e dividir sonhos, de aprender com velhos homens e meninos, de defender as mais esquisitas criaturas, em nome de um bem maior que nosso próprio descanso.
Obrigado, Yara, pelo apelido e por ter me ajudado a rever que a aventura está lá fora, e que devemos estar sempre prontos a ir atrás de nossos sonhos. Mesmo que em nossa bagagem carreguemos bengalas, artrites, próteses, dentaduras e as alegrias e tristezas de uma vida bem vivida. Mesmo que nosso único transporte seja uma ridícula, colorida, insegura, maravilhosa nuvem de balões, poderemos cruzar continentes, atravessar mares, ultrapassar montanhas.  Venham, a Aventura está lá fora.

domingo, 10 de abril de 2011

É a ingnorança que astravanca o progressio

PIEDADE NO LUGAR DE PEDRAS
Eu não queria mais falar sobre esse assunto, quando mais não fosse, pelo tempo que já passou. Mas como tem uma amiga insistindo para que eu coloque no blog umas coisas que comentei na época, aqui vai.
Bem, falo do caso “Restart”, onde um dos meninos demonstrou uma ignorância estupenda e abissal ao se referir sobre o Amazonas.
Em primeiro lugar; como oriundo que sou do sudeste, quero esclarecer que a opinião do rapazinho, ou seu pensamento, é exclusiva e unicamente dele, uma vez que a banda pode ser porta-voz da tolice, mas não do “povo do sudeste”. Segundo; falar bobagem (ou ser ignorante), não é monopólio de ninguém, em qualquer região desse enorme Brasil. Haja vista uma música de um compositor daqui, que se refere ao Sudeste como algo carregado de coisas ruins. Na música ele dialoga com um primo que está em São Paulo, e supostamente sacaneia o cara por este falar das coisas boas de São Paulo. No caso desse compositor local, acho até pior, uma vez que duas de suas letras que já escutei, são pejadas de preconceito e xenofobia em relação ao sudeste, sendo que este não tem a idade dos “restarters” como defesa. Ele fala por xenofobia, e uma boa dose de preconceito (e de dor de cotovelo).
Mas vamos aos “meninos”, na época, quando todos estavam revoltados, ameaçando até fisicamente caso a banda viesse dar show aqui, eu disse que o caso deles era mais digno de piedade que de raiva. O rapazinho só demonstrou ignorância e imbecilidade, mas a culpa na verdade é da imprensa que transforma em ídolos meninos e meninas com um QI e cultura, inferiores ao RIN TIN TIN (procurem no Google pra saber quem é). Disse que eles eram dignos de pena até mesmo pelo que o agente fez com eles. Vejam só o que fizeram com essas crianças!!!! Eles usam a calça que o Tiririca usava aos seis anos de idade (mais apertada que inteligência de um participante do BBB, mais curta que honestidade de político), já os tênis dos meninos, são sobra do Bozo ou Ronald McDonald; ENORMES. Quanto aos óculos, eles pediram emprestados à irmã mais nova da Barbie, e os cabelos foram cortados dentro de um liquidificador... Ora, a aparência deles demonstra claramente que se mascarem chiclete e andarem, acabam ou caindo ou cuspindo o chiclete. E vocês ainda se sentem ofendidos?!?!?
Qual é?!?, uma bandinha de 5ª, montada já com prazo de validade errar qualquer coisa sobre mim (ou sobre um estado ou cidade), é uma honra. Afinal, deles, o que queremos mesmo é que nos errem, a ponto de sentirem necessidade de voltarem a um banco de escola, estudarem a sério e, para alívio do bom gosto, pararem de cantar.
Por isso falei que o sentimento deveria ser de piedade, piedade por pessoas tão jovens que tiveram uma boa chance educacional, falarem uma besteira tão grande. Piedade por esse nosso Brasil, que produz essas aberrações pseudo-musicais para atender a uma indústria que deveria estar produzindo cultura. Piedade porque a palavra desse menino demonstra a quantas anda nosso sistema educacional. Piedade e medo, porque a imprensa, com tanta coisa importante e interessante, fica abrindo espaço para essas e outras “aberrações midiáticas”, chamando de famosos essas figuras que se situam entre nada e coisa alguma. Piedade, por todos nós, que por força democrática, somos obrigados a ouvir e garantir o direito destes e de outros tantos imbecis falarem tanta bobagem nos meios de comunicação. Nós, que já vivemos um pouco mais, e vimos os anos de chumbo nos perguntamos, foi para isso que Herzogs, Angels e tantos outros morreram e lutaram?
Yara (minha colega de turma na UNINORTE), essa é pra você, e desculpe se não ficou tão engraçado quanto nós gostaríamos. Mas a coisa é séria .

quarta-feira, 16 de março de 2011

Agonia e glória


“E vieram todos por fim,
Ao todo uns cem,
E não pode domá-lo
Enfim, ninguém.
Que ninguém doma o coração de um poeta.”
(Augusto dos Anjos)
 
Quero falar do que já não importa; redes, amuradas, homens trabalhando duro e o vento zunindo cantigas de guerra em nossos ouvidos. Horas há em meio a luta, que o sangue corre tão rápido e incandescente, que o rum mais puro ou a cachaça mais barata não conseguem se lhe comparar.

Delírios...
(Hulk não tem amigos!) Textos ainda não escritos atravessam as lembranças do que vou viver. Pernas esguias, lâminas afiadas entre as costelas, profundos mergulhos na goela escura do mar. Corsários e bucaneiros em confiança de lobos na neve; ao primeiro sol se devorarão entre gritos de dor e toques de fanfarra. (O herói não tem amigos, admiradores talvez, prontos a aplaudir outros heróis. Mas ninguém para dividir o pódio.)

         Ao primeiro contato com a corrupção (note bem) os cães já deixarão de te abanar a cauda. E pode esquecer a idéia do potro xucro, este jamais se te entregará. (Somente a solidão, essa pantera...(A.A.)) Teu suor não poderá mais regar a terra, e o sal das tuas lágrimas não mais servirá de pasto às borboletas, e perderás todo o direito ao cemitério dos elefantes.

(Hulk não tem amigos!) O ser humano mais próximo ao herói, aquele que lhe é mais chegado, o único a devotar um sentimento puro, é o vilão. Ah! Abençoada seja a faca do inimigo que tenta penetrar tuas costas na noite escura.

Mas, de que servem heróis sem uma luta, ou adversários à altura ? (Herói aposentado vira síndico só para discutir com o bombeiro?)
Bendito seja o punhal que te será fiel até seu intento final...

(Hulk não tem amigos!) Contam que os hunos iam guerrear cantando, e todo dia era um bom dia para morrer.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Esse objeto do desejo

“Quem sabe, o Super-Homem venha nos restituir a glória,
  Mudando como um Deus o curso da história,
  Por causa da mulher...” (Super-Homem, a Música – Gilberto Gil)

         E no princípio do mundo, quando tudo era perfeito, a Mulher tentou o Homem, fazendo-o comer do fruto da Árvore da Vida. E a partir daí, toda a desgraça da humanidade começou. Assim nos conta o livro de Gênesis, passando para a Mulher a culpa de todos os nossos males e mazelas.
         Já na mitologia grega encontramos quase que a mesma história, quando Pandora, não conseguindo conter sua feminina curiosidade, abre a caixa que libertaria todo o mal; a Peste, a Guerra, a Fome... (E aqui se faz necessário um parêntese, uma vez que os gregos contam que Pandora libertou também a Esperança, sendo um pouco mais legais com as mulheres que os hebreus.)
         Mas vejam só, tanto para judeus, quanto para gregos, a Mulher foi capaz com seu perverso poder, de retirar o mundo do paraíso perfeito, nos atirando ao caos. E toda a cultura ocidental (nossa) tem por base essas duas; a grega e a judaico-cristã... Parecem querer dizer que quando vemos uma mulher sofrendo das várias e variadas violências e violações, bem elas merecem...
         Ah, mulheres, mulheres, parece que quanto mais desejadas, mais odiadas; quanto mais amadas, tanto mais oprimidas; quanto maior o seu sucesso, maior também é o ódio e a inveja que as acompanha.
         Afinal, não foi isso que as estórias e histórias nos passaram a vida inteira; que o poder, por menor que seja, quando em mãos femininas é extremamente perigoso? Que a aproximação excessiva de homem e mulher tira a pureza dos homens, trazendo males indescritíveis para toda a humanidade?
         Colocando os exageros de lado, há certa verdade nesses mitos. Porque na prática é sempre através de uma mulher que nós homens abandonamos a inerte inocência, ultrapassando assim a linha divisória entre meninos e homens. A primeira experiência amorosa (amorosa, e não sexual!!), quando predador vira presa, e a caça se transforma em doce armadilha, é a fronteira sem a qual não poderemos, os homens, jamais definir ou distinguir o quanto vale a vida, com seus males, e todo o bem que só o amor de uma mulher pode nos dar.
         É daí que vem todo o medo (e a maldita violência que o acompanha), é que ao experimentarmos do fruto oferecido por uma mulher, - ou quando uma mulher nos abre a caixa – nenhum homem jamais será o mesmo, nenhum menino suportará continuar sendo criança. E daí as desgraças serão liberadas, uma vez que a perda da inocência, a saída do paraíso, traz em si a responsabilidade para assumir o mundo, com suas dores, seus prazeres, e suas conseqüências.
         É como se nos tivessem ensinado as histórias certas, mas com a interpretação errada. A perda da inocência, do viver em um eterno Jardim do Éden, não significa um castigo, mas o marco de nossa maturidade. Maturidade essa que começamos a atingir quando, pelas mãos de uma mulher, experimentamos do fruto da Árvore da Vida.

PS: Desculpem o atraso de alguns dias, mas na verdade esse texto vale pelo Dia Internacional da Mulher, na esperança de que algum dia entendamos como o “Super-Homem”, que a mulher deve ser amada e admirada todos os dias.

quarta-feira, 2 de março de 2011

TAI CHI CHUAN

Há que guardar segredos e saberes,
E jamais deixar que a luz de teus
Olhos fulgure além dos cílios.

Há que aquietar pulsações e tremores,
E jamais permitir que vejam
O quanto vale o teu braço.

Há que calar salmos e palavras,
E jamais deixar que tua língua
Vá além da barragem dos dentes.

Há que soprar velas e cobrir lumes,
E jamais permitir que teu brilho
Ultrapasse os limites do cinzento.

Há que ser radicalmente maleável,
E jamais deixar tuas arestas
Penetrarem o útero da lua.

E que teus pés não vão tão depressa,
Ou que teu peito liberte rumos,
Nem que tua boca cuspa trovões...

...muito tranqüilo.
Calmo, preciso e silencioso
Como o bote da serpente. 
        

                                                                 Rio de Janeiro,1990

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

ENTÃO MORRA...

A resposta do Prefeito de Manaus, Amazonino Mendes a uma moradora de área de risco (invadida), reflete não apenas a falta de educação do ilustre e conhecido personagem. Mas também, e principalmente, o fato de que governantes em nosso país querem ser obedecidos cegamente. Quando não... bem então morra.
Mas o mais interessante para mim em todo esse episódio foram as coincidências de atitudes, vamos analisar:
Todos os dois estão errados, sim, com certeza. Ela por ocupar sem autorização legal uma área (pública ou privada) que não lhe pertence e que traz risco de morte para si e para sua família. Mas o que se pode dizer, é que a miséria e até mesmo a falta de conhecimento e educação perdoam e nos fazem relevar um pouco este erro, num país onde os erros de nossos governantes se sucedem na mesma proporção de velocidade e quantidade da água saindo de uma torneira quebrada.
E ele, o Sr. Prefeito, estava errado por ressuscitar todo o espírito dos velhos “coronéis de barranco”, dos antigos seringais. A virulência da resposta dada à quem esperava uma solução, é bem digna desse passado, “ou você faz como eu quero, ou morre”.
Mas a coincidência que me marcou mais profundamente em toda essa história, foi que cada um é responsávelpela situação do outro. Gente como aquela senhora é responsável por Amazonino (e outros por esse Brasil a fora), estarem onde estão.
E políticos como o prefeito de Manaus são os responsáveis por aquela senhora (e outras tantas Marias e Joões) estarem vivendo em condições que tais.
A nossa (ou minha) esperança, é de que uma vez que os governantes, não conseguem tirar esse povo de sua situação de risco. Que um dia esse povo tire os governantes da situação de mando.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Uma Questão Semântica


Eu tinha prometido a mim mesmo não falar de política aqui nesse espaço. Pra ver se o mau cheiro dessa área não me atingia mais do que já atinge todo dia...
Porém, como na verdade foi uma questão semântica, abro uma exceção.
Refiro-me à discussão ocorrida há alguns dias no senado, entre a ilustre Senadora Marta Suplicy (será que ela paga royalties ao ex-marido pelo uso do nome?), e o mais que ilustre (beletrista e imortal), Senador José Sarney, respectivamente Presidente e 1ª Vice-Presidente daquela prestigiosa casa. Bem, a discussão acima citada, foi a que envolveu a importantíssima questão nacional, se deveriam ou não chamar a Presidente Dilma Roussef de Presidente ou Presidenta!!! Aqui entre nós, o país pegando fogo (na mesma semana o governo havia anunciado cortes na faixa de 50 bilhões) e os dois discutindo semântica e gramática!!!
E o pior, a imprensa nacional ainda abre espaço pra esse tipo de disparates. Será que ninguém nunca avisou a esses dois que eles estão lá, pagos com nosso rico dinheirinho, para legislar e nos representar com dignidade e integridade ? (ui) E se não o conseguem, que pelo menos não façam papel de babacas em cadeia nacional?
Será que a distância que nos separa -Senado e povo- chega a ser tamanha, que além de pouco trabalharem, ou usarem seus respectivos mandatos apenas para se auto favorecerem (como no caso do emprego pro namorado da neta do Sarney), eles ainda nos fazem assistir esse festival de asnices e asneiras.
Vamos e venhamos, esse tipo de conversa (fiada), se existir, que se restrinja à sala do café. Ou aquele papo de elevador. Mas, quando ocuparem a tribuna, representando o povo que lá os colocou, tenham pelo menos um comportamento mais digno e correto, que de um participante do BBB.
Atenção senadores (sei que não vão ler isso), VOCÊS SÃO SERVIDORES PÚBLICOS. Extremamente bem remunerados, indecentemente cercados de mordomias, mas, mesmo assim; SERVIDORES PÚBLICOS. Então, tenham a sensatez e a vergonha na cara, de nos servirem com dignidade.  

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Puro e Sem Gelo

      Puro e sem gelo, porque assim deve ser levada a vida, da forma mais natural e simples possível, como a dose de uma boa bebida, o amor de uma bela mulher, o abraço de um filho.
      Puro e sem gelo, porque assim é que eu gosto de viver, em grandes e puras doses de emoções sem mistura e sem frescura.
Puro e sem gelo, porque o simples é mais elegante e sofisticado que o complicado. Como um poema de Pessoa, uma música de Bach, ou uma pintura de Dali.
      Puro e sem gelo, porque não é possível ter medo, porque quanto mais terrível for o mundo, mais fascinante ele fique.
      Puro e sem gelo, a cowboy, descendo ardendo na garganta, queimando como o sol tropical, para estabilizar apenas no destino.
      Puro e sem gelo. Divirta-se, pois com certeza eu vou estar me divertindo.