terça-feira, 6 de setembro de 2011

Lições de Uma Triste Figura


“Sonhar..
Mas um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer o inimigo invencível
Negar quando a regra é vender” (
Sonho Impossível -J. Darion - M. Leigh - Versão Chico Buarque e Ruy Guerra/1972 Para o musical para O Homem de La Mancha de Ruy Guerra)
Preciso confessar uma coisa; sempre fui fã de filmes e romances de cavalaria. Rei Artur, Lancelote, Gawain, Ivanhoé, Ricardo Coração de Leão, enchiam minha cabeça de menino não apenas de atos de bravura física, mas de ética, coragem moral e companheirismo.  
Já mais adolescente, quando geralmente  abandonamos, ou até mesmo passamos a nos envergonhar das coisas de menino, fui apresentado a Dom Quixote de La Mancha.
O mais interessante é que quem me recomendou o livro tinha por intenção alertar sobre os perigos da leitura em excesso. O bom fidalgo, de tanto ler, enlouquece, e passa a ver tudo sob o manto da fantasia, ou do personagem por ele assumido. Um Cavaleiro da Triste Figura, magro, velho, alquebrado, cavalgando um pangaré com uma bacia de metal na cabeça, um  escudo e espada de terceira, e uma vontade imensa de acabar com os perigos do mundo.
Graças a Deus, não peguei medo da leitura. Graças a Deus, um pouco da loucura e principalmente das lições dessa Triste Figura, me marcaram por toda a vida.
Aprendi com Quixote, que para ser cavaleiro, basta a coragem, a vontade e a ousadia. As armas, bem, uma bacia (ou panela como mostrou Ziraldo), uma espada enferrujada, uma lança de madeira, um escudo feito por uma bandeja, um pangaré às portas da morte, e uma estrada pra seguir em frente.
Ensinou-me também Quixote, que a mulher que amamos sempre será uma nobre ou princesa, e que seus amigos e companheiros são heroicos e valentes.
Aprendi que a casa que me acolhe, por mais humilde que seja, é um castelo.
Que existe uma magia ruim, tentando me fazer ver as coisas diferentes do que são.
Mas a principal lição é aquela de que o verdadeiro cavaleiro põe à disposição da justiça e dos injustiçados sua força e suas armas. E quanto maior e mais forte for o adversário, proporcionalmente o será a glória de enfrentá-lo.
Ah, e aprendi a não dar ouvidos quando me dizem que são moinhos, não são não. São ogros gigantes que querem nos engolir. São imensos e malévolos seres, que se alimentam de almas, que devoram espíritos e vontades.
Cavaleiro da Triste Figura, que ao voltar pra casa conclui que não existem mais heróis, apesar das injustiças muitas pela estrada em diante.
Cavaleiro da Triste, Ridícula e Amada Figura, vem comigo a recolher as luvas atiradas em desafio e a provar a todos que devemos “lutar, quando é fácil ceder”. Pegue sua espada, escudo e bacia, e vamos em frente, que os moinhos não nos enganam, são monstros e gigantes, que precisam urgentemente ser derrotados, para que enfim tenhamos um pouco de paz.

Um comentário:

  1. Tô nessa!!! Infelizmente, a maioria prefere viver sob o julgo da injustiça, mudo, como um cão com o rabo entre as pernas, fingindo que essa "derrota" não os atinge. Em vez de lutar pelo que é certo, pelo que é justo... ir às ruas e mudar a política, a robalheira, a conduta... Bradar o "não", o "basta", o "chega" para tantas outras coisas que não deveriam estar como estão. Parabêns por mais esse post seu Dilson. Abraço.

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