quinta-feira, 13 de outubro de 2011

COMO OS URSOS




Esse gozar a vida, não pode ser meio e fim. Não. Fomos criados para algo além, que as sextas não contam, e os sábados escondem em seus mantos.
Longo é o anoitecer, e o inferno em meus olhos quando te buscam, queima mais frio e contínuo que a bola do crepúsculo. Terão também lobos direito ao entardecer, ou será privilégio de cães assistir a queda do sol.
Ah, irmão, por onde tens andado? Teus passos desviaram-se tanto quanto os meus nestes descaminhos vertentes e nus? Também tu foste tentado diante do cofre, mas não tanto que te fizesse esticar  a mão? Também foste ridículo quando “só príncipes havia a volta”?
Ah, irmão, irmão, que falta nos faz a fogueira, e as cantigas de bruxas e espadas. Que saudades da honra, justiça e glória. Que desesperada nostalgia pelo cavalo, lança e escudo, e nada a temer que todos os dias são de prova e justa, suor e lida.
Há quanto não enfrentas dragões e magos?
Vem, desfralda também o teu pendão, e armemos pavilhões em desafio ao barão.
Vem, afia a tua espada, desembainha punhais, aquece a têmpera do aço em teu sangue nobre.
Vem, e não esperemos prêmios, só o verdadeiro valor do dever cumprido.
Vem, e não te importes com a aparência de moinhos, são ogros na verdade, que temos de enfrentar.
Vem, e que a alma dos loucos e dos ursos nos acompanhe.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Pomo de Ouro


Morda a maçã! E não olhe o miolo. Só assim serás capaz de engolir um pedaço. E, se teimosamente teu olho escorrer pela borda da pálpebra, procurando dentre as várias podridões uma parte aceitável; arranca-o.
A maçã deve ser devorada gulosamente, sem preconceitos gástricos. Mesmo porque tirando a casca, o resto está irremediavelmente comprometido.
Morda a maçã! Já te deram coisa pior para engolir, e nunca reclamaste.
Então... Morda logo esse pomo perfumado, e não busque esotéricas explicações para o degustativo ato. Uma maçã foi feita para ser mordida, não a fizeram para que fosse pensada, analisada, debatida em congresso de doutos.
Morda-a sem susto ou rezas.

domingo, 2 de outubro de 2011

PELO USO DA PALAVRA



Primeiro quero deixar claro a todos (e quem já me conhece sabe que isso é verdade), o fato de que não sou nenhum puritano. Pelo contrário, por vezes até me recrimino, pois para um cristão convicto, tenho a boca bastante suja...
Mas o que vou  falar, não se refere a puritanismos ou a convicções religiosos, mas sim ao uso da palavra. Explico; assistindo a shows no recente concerto de rock, vejo vários cantores se dirigindo à plateia gritando o seguinte “elogio”: “Vocês são fo...!!!” e, também no dia a dia, encontro essa mesma expressão( e outras como “do ca...”) largamente utilizada no “Facebook”  e em outras redes sociais, como sinônimo para muito bom, excelente, etc.
Aí, fico pensando; nosso idioma, a língua portuguesa, é um dos mais ricos e belos em sonoridade do mundo. Temos sinônimos os mais expressivos e veementes para cada situação surgida em nossa vida, não precisamos do uso desse tipo de palavra para descrever algo que nos impressione. Mesmo porque, a repetição sem sentido de qualquer termo, acaba por fazer com que este perca a força, e aí, quando um dia encontrarmo-nos em uma situação que seja realmente uma FO..., teremos que brindá-la com nosso silêncio.
E já estamos indo por esse caminho. Pergunto a alguém como anda o mercado de trabalho (ou as provas na faculdade), e vem a resposta: “Tá uma FO...”, aí eu digo, “Parabéns, porque além de tudo está dando prazer...” “Não o senhor não entendeu, ‘tá muito ruim...” ? Outra situação; encontro um de meus jovens amigos (porque não tenho só amigos próximos de vencer a validade como eu, viu), e pergunto como foi o show de uma cantora. Resposta (geralmente com olhos esgazeados e um “o” prolongado): “Foi FOOOOO...”, e eu; “Que pena, um show tão caro...” Aí meu jovem amigo me corrige; “Eu ‘tô* falando que foi muito bom!”(ou tow*). E porque não falou logo?
Gente, se foi bom, você pode dizer : (lista de sugestões) BOM, ÓTIMO, SENSACIONAL, FABULOSO, FANTÁSTICO, FENOMENAL, DIVINO, MARAVILHOSO (e por aí vai). Podem até optar por um neologismo e criar termos como: FABULÁSTICO, DIVINOSO, OTIMOSO, BÓTIMO, SENSACIONOSO, SENSACIONÁSTICO (e tome polca).
Ah, e para as coisas ruins: RUIM, HORRÍVEL, TERRÍVEL, TENEBROSO, HORROROSO, CHATO, INFERNAL, NOJENTO, GOSMENTO, DOLOROSO, e toca daí.
Por favor, vamos dar trabalho à mente e exercitar nosso idioma, para o bem e para o mal. Deixemos as FO... e CA... em seus devidos lugares, até mesmo para que eles não percam a força, porque tem horas que (reconheço) só um bom palavrão expressa o que estamos pensando. Como na anedota:
Aquele louro imenso de quase 2 metros entra no confessionário e já tasca: “Padre, é fo...” e o padre, já cortando: “Que é isso, meu filho, não fale assim na igreja...”, e o grandalhão: “Deixa explicar, sou filho, neto e bisneto de alemão dos dois lados da família. Minha mulher é filha, neta, bisneta e trineta de alemão. Tudo grande e louro de olhos verdes...” “E daí?”, “Hoje, fui na maternidade visitar minha mulher que ganhou neném...Olho o bebê, e vejo um japonês?!?!” E o padre, compungido; “ É, meu filho, aí é mesmo fo....”

Usemos mais a palavra. A palavra certa na hora certa, com toda a beleza, riqueza e criatividade com que fomos presenteados.