segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O direito ao uso do próprio corpo


Semana passada, teve fim uma novela descoberta pelas redes sociais e exposta na mídia; da jovem brasileira que resolveu leiloar a virgindade pela internet. Tantas manifestações sejam de apoio ou de justificada indignação, encheram as páginas de redes em todo o país. Gente que não havia lido o teor completo da matéria, inclusive querendo acionar a Delegacia da Mulher ou o Conselho de Defesa dos Direitos Humanos, e até mesmo o Super-Homem ou o Chapolim Colorado, para acabar com tal abuso.
Vendo melhor as matérias divulgadas, descobrimos que abuso não foi, uma vez que a jovem tem 20 anos, e decidiu por vontade própria leiloar tal “iguaria”(?), e vemos também que o leilão é comandado de Bali, na Indonésia (aliás, ô lugarzinho bizarro e bisonho), onde nossas delegacias não teriam a mínima ingerência. Quem promove o espetáculo de gosto duvidoso há já algum tempo, é um site localizado na Austrália, e que parece ter encontrado um negócio novo e lucrativo. Bem, nem tão novo assim, pois assim como dizem que a prostituição é a profissão mais antiga do mundo, exploração de lenocínio (proxenetismo) é também um negócio bem antigo, seja nas ruas, através de linhas telefônicas, ou por meios eletrônicos. Vemos também que a família não concorda, mas apoia como todo pai e mãe apoiariam, enfrentando leões para defender suas crias.
Mas o que mais me chamou a atenção em toda a gritaria criada em torno do assunto, foi a alienação de nossos compatriotas em relação a fatos que ocorrem diuturnamente a vista de todos, e que parece já estarem amortecidos em nossa consciência. Ou então nos tornamos os idiotas tecnológicos que falava Einstein, só tomando contato com a realidade quando ela nos é mostrada através da internet, ou da TV.
Há anos, meninas tem sua virgindade, seus corpos e inocência leiloada, vendida e estuprada todos os dias, aqui e alhures. Aliás, na maioria das vezes, nem se dá leilão, vem alguém e leva, oferecendo de forma compensatória coisas que nem é preciso moeda estrangeira para comprar. Ou esquecemos já os dados levantados pela CPI da pedofilia? Ou já caiu no buraco negro de nossas memórias casos famosos como de secretários de estado, governantes, deputados, ilustres senadores e mesmo magistrados, que por esse país inteiro divertem-se com filhos e filhas da terra, que se entregam por força da palavra de pais e mães, que em desespero vendem seus filhos.
No Brasil, diariamente, repito, meninas e meninos entregam seus corpos, em troca de uma “manta” de charque, uma saca de farinha ou de feijão, sendo reservado aos de melhor aparência, coisas “mais custosas” (como me disse um desses compradores, certa vez), como uma carabina, uma cabra ou um cavalo. Todos os dias, sem direito a leilão ou desfile, meninas ainda impúberes são arrebanhadas, com o consentimento de todos nós, sem que uma só voz se levante nas redes sociais.
Não estou aqui fazendo a apologia à prostituição. Pelo contrário, gostaria de ver o mesmo tipo de revolta (nem que fosse apenas em redes sociais), em casos que realmente merecem e levantam a nossa repulsa.
Quanto a jovem Catarina, que nesse momento já deve ter realizado a fantasia e desejo de tão feliz comprador(?), que faça bom proveito do que conseguiu arrecadar, pelo menos foi por livre e espontânea vontade.

Um comentário:

  1. Lamentavelmente quem sabe o exemplo da dita virgem sirva para inflacionar o mercado e levantar a auto estima das virgens desavisadas... quem sabe assim a sanha diabólica seja um tiro pela culatra e obrigue aos canalhas de plantão a pagar mais caro pela iguaria rara...

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